terça-feira, 3 de setembro de 2024

Privilégio branco?


Privilégio branco, ou privilégio de pele branca, é uma ideia recente que defende que sempre houve um privilégio social beneficiando os brancos em relação aos não brancos nas sociedades ocidentais, particularmente as que estiveram envolvidas no processo colonial. Com raízes no colonialismo e imperialismo europeus, e no comércio de escravos no Atlântico, o privilégio branco desenvolveu-se em circunstâncias que acabaram por proteger amplamente a sociedade europeia com direitos e benefícios especiais. O estudo do privilégio branco, também designado por "branquitude", tem como pioneiros os departamentos de estudos culturais nas universidades dos Estados Unidos. P
erspectivas académicas filiadas na Teoria Crítica. 

A académica americana - Peggy McIntosh - descreve as vantagens dos brancos nas sociedades ocidentais, desfrutando de ativos invisíveis imerecidos. O privilégio branco denota vantagens passivas óbvias e menos óbvias que os brancos podem não reconhecer que têm, o que o distingue do preconceito evidente. Isso inclui afirmações culturais do próprio valor que presume maior estatuto social, liberdade para se mover, comprar, trabalhar, brincar e falar livremente. Os efeitos podem ser vistos em contextos profissionais, educacionais e pessoais. O privilégio branco também está implicado no direito que o branco assume com a ideia de universalidade das suas próprias experiências, em que os outros é que são diferentes, excepcionais.

Alguns estudiosos usam o termo "brancura" como um substituto de classe social. Outros afirmam que não é que a "branquitude" seja um substituto, mas que muitos outros privilégios sociais estão interligados a ela, exigindo uma análise complexa e cuidadosa para identificar como a "branquitude" contribui para o privilégio. Outros propõem definições alternativas, sugerindo que a noção de brancura não pode ser inclusiva para todas as pessoas brancas. O "conceito académico de privilégio branco" provoca mal-entendidos entre os brancos, em parte devido à forma como o conceito de privilégio branco é trazido a público. Basta recordar as campanhas do "
Black Lives Matter". O conceito académico de privilégio branco tem sido mal interpretado por não académicos. Pelo menos, é o que acontece pela reação de alguns estudiosos surpreendidos com a recente oposição de críticos pertencentes aos partidos políticos de direita.

O que se está a passar na América, ou pelo menos em alguns Estados, é uma espécie de armadilha identitária. Instituições que se dizem antirracistas acham que devem ajudar os seus alunos a alcançar a identidade racial certa. Nos Estados Unidos, o conceito de "armadilha identitária" tem a ver com o fenómeno educativo de reforçar identidades raciais de maneira rígida. Essas práticas, por vezes, são promovidas sob a bandeira do antirracismo, mas acabam criando uma pressão sobre os indivíduos para que se alinhem com determinadas identidades raciais ou culturais específicas. Em alguns casos, essas instituições acreditam que a melhor forma de combater o racismo é encorajar ou até pressionar os estudantes a "abraçar" ou se conformar a uma identidade racial particular. Isso pode incluir a promoção de certos comportamentos, crenças ou valores associados a essa identidade. No entanto, isso tem gerado controvérsia e críticas.

Ao promover uma visão rígida do que significa pertencer a uma determinada identidade racial, essas práticas podem inadvertidamente reforçar estereótipos raciais, em vez de desafiá-los. Alguns críticos argumentam que essa abordagem nega a complexidade e a individualidade das pessoas. Em vez de reconhecer que a identidade racial de alguém pode ser multifacetada e pessoal, ela pode ser vista como uma tentativa de enquadrar os indivíduos em categorias pré-determinadas. A ‘racialização’ prejudica tanto os privilegiados quanto os não privilegiados, mas prejudica mais os não privilegiados. Argumenta-se que a identidade racial/étnica não são categorias separadas ou autónomas e o que é chamado de 'categorias raciais' nos Estados Unidos são na verdade categorias étnicas 'racializadas'. A sociedade dos Estados Unidos é considerada por alguns uma sociedade 'racializada' na qual são dadas as divisões entre os grupos raciais/étnicos. A teoria crítica da raça argumenta que o “racismo é normal e está enraizado no tecido e sistema da sociedade americana”. Isso significa que a prática cultural atribui valor e competência assumida a pessoas que têm certas características. A abordagem psicológica social sustenta que o preconceito socializado no início da vida alimenta os estereótipos raciais.

Ao focar intensamente nas identidades raciais, essas práticas podem exacerbar divisões raciais, criando um ambiente onde as pessoas são constantemente lembradas de suas diferenças, em vez de suas semelhanças ou do que as une. Há também preocupações de que essas práticas desviem o foco do ensino académico e do desenvolvimento crítico, promovendo uma espécie de conformidade ideológica. Esse fenómeno tem gerado debate intenso nos Estados Unidos, com defensores argumentando que é uma forma necessária de abordar desigualdades históricas, enquanto os críticos veem isso como uma abordagem que pode ser contraproducente e limitadora. É uma questão complexa, refletindo as tensões em torno de raça, identidade e a luta por justiça social no país. É absurdo que altos responsáveis de escolas digam aos alunos brancos para terem consciência da sua "branquitude", porque isso configura um privilégio.

A noção de "branquitude" se refere à ideia de que, nas sociedades ocidentais, ser branco é visto como a norma e, por isso, muitas vezes os brancos podem não perceber as vantagens que têm em relação a pessoas de outras raças. O "privilégio branco" é um conceito que sugere que pessoas brancas, independentemente de sua situação económica ou social, podem beneficiar de certas vantagens. 
Quando escolas ou educadores pedem a alunos brancos que reconheçam sua "branquitude" e o privilégio que ela pode conferir, até damos de barato que a intenção, muitas vezes, é fazer com que os alunos reflitam sobre as desigualdades raciais e como estas podem ser perpetuadas por normas e sistemas que favorecem certos grupos. No entanto, isso pode parecer injusto ou até absurdo para alguns, especialmente quando é feito de maneira que possa ser interpretada como uma acusação ou como se estivesse dizendo que os alunos brancos são culpados por essas desigualdades simplesmente por serem brancos.

Nem todos os brancos têm a mesma experiência de vida ou as mesmas vantagens. A abordagem pode ser vista como simplista e pode não levar em conta as nuances da vida individual de cada aluno. Alguns temem que esse tipo de ensino possa fazer com que os alunos brancos se sintam culpados ou responsáveis por injustiças das quais eles não tiveram participação direta. Em vez de promover a compreensão e a união, pode criar ressentimento e divisão, especialmente se os alunos se sentirem atacados ou incompreendidos. A identidade racial é apenas uma parte da identidade de uma pessoa. Quando o foco é exclusivamente sobre raça, outras dimensões importantes da identidade, como classe, género, e experiências pessoais, podem ser negligenciadas. O desafio aqui é como abordar questões de racismo e desigualdade de uma maneira que seja construtiva, educacional e inclusiva, sem causar alienação ou divisões adicionais. É uma questão delicada, que requer um equilíbrio entre consciencializar sobre as desigualdades e reconhecer a individualidade e as experiências únicas de cada pessoa.

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