segunda-feira, 23 de setembro de 2024

As guerras na Ucrânia e no Médio Oriente estão a apressar muitas mudanças


Dado que ambos os conflitos são dinâmicos e multifacetados, é provável que continuem a moldar o cenário global de maneiras imprevisíveis. A incerteza é uma característica central desses conflitos, e o mundo terá que lidar com as consequências à medida que elas surgem, muitas vezes de formas inesperadas, numa altura em que as Nações Unidas nada podem fazer para além de figura de corpo presente. A crítica que reflete a frustração crescente com a aparente ineficácia da organização em lidar com crises globais, como a guerra na Ucrânia e os conflitos no Médio Oriente. Embora a ONU tenha sido criada para promover a paz e a segurança internacional, a sua capacidade de agir tem sido frequentemente limitada por vários fatores, especialmente em tempos de conflito intenso.

A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, de facto, acelerou uma série de mudanças significativas em várias esferas globais, desde a geopolítica até a economia, segurança energética e alianças internacionais. A invasão levou a uma reavaliação profunda das políticas de defesa na Europa. Países como Alemanha, que historicamente mantiveram uma política de defesa mais moderada, anunciaram aumentos significativos nos seus orçamentos militares. Além disso, a guerra reforçou a importância da OTAN, com países como Finlândia e Suécia buscando adesão à aliança, algo que era impensável antes do conflito.

O Conselho de Segurança da ONU, onde as principais decisões sobre paz e segurança são tomadas, tem sido frequentemente paralisado pelo uso do veto por membros permanentes como Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. No caso da guerra na Ucrânia, por exemplo, a Rússia, como membro permanente, tem bloqueado qualquer ação significativa contra si mesma. Essa paralisia impede a ONU de tomar medidas decisivas em muitas crises.

A guerra evidenciou a vulnerabilidade da Europa devido à sua dependência do gás natural russo. Em resposta, muitos países europeus começaram a diversificar as suas fontes de energia, aumentando investimentos em energias renováveis e buscando novos fornecedores de gás e petróleo. Isso acelerou também a transição energética em várias partes do continente. Instabilidade nos mercados globais, resultando em aumentos nos preços de energia e alimentos. A Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores de cereais e fertilizantes, e o conflito levou a interrupções no abastecimento, exacerbando a crise alimentar em várias regiões do mundo.

A invasão russa resultou em uma resposta unificada do Ocidente, com a imposição de sanções económicas severas contra a Rússia. Essas sanções visam enfraquecer a economia russa e isolar o país internacionalmente, mas também têm causado efeitos colaterais na economia global, especialmente em mercados emergentes. O mundo está cada vez mais dividido em blocos, com países sendo forçados a escolher lados em meio a uma crescente competição geopolítica. Uma das maiores crises de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Milhões de ucranianos foram deslocados internamente ou fugiram para países vizinhos, gerando uma pressão significativa sobre os sistemas de acolhimento e assistência humanitária. A guerra também consolidou uma parceria mais próxima entre Rússia e China, com a China adotando uma postura ambígua que, por um lado, apoia tacitamente a Rússia, enquanto, por outro, evita romper completamente com o Ocidente.

Essas mudanças indicam que a invasão da Ucrânia por parte da Rússia não é apenas um conflito regional, mas um facto de grande repercussão global, com impactos que provavelmente serão sentidos por muitos anos, moldando a ordem mundial futura. A maioria ainda não está preparada para as compreender. Muitas das mudanças provocadas pela guerra na Ucrânia em 2022 são complexas e difíceis de compreender plenamente para a maioria das pessoas. As dinâmicas globais de poder, as alianças e as estratégias militares e diplomáticas envolvidas são extremamente complexas. Para a maioria das pessoas, que não acompanha de perto os assuntos internacionais ou não tem formação em geopolítica, entender as implicações de eventos como a guerra na Ucrânia pode ser desafiador.

E como sempre em qualquer conflito a desinformação e a propaganda são a preciosidade mais bem guardada. Isso cria um ambiente em que é difícil distinguir factos de narrativas manipuladas, o que complica ainda mais a compreensão dos factos. Muitas das mudanças provocadas pela guerra, como as repercussões económicas, a crise energética ou a reconfiguração de alianças, podem não ser imediatamente percebidas no dia a dia das pessoas. As consequências indiretas, como o aumento do custo de vida ou a escassez de certos produtos, podem ser atribuídas a outros fatores, tornando difícil para muitos fazer a conexão direta com o conflito.

Compreender plenamente os eventos atuais muitas vezes requer uma perspetiva histórica que a maioria das pessoas não possui. A guerra na Ucrânia está inserida num contexto histórico mais amplo de relações entre a Rússia, o Ocidente e as ex-repúblicas soviéticas, algo que pode não ser conhecido por todos. Para muitos, as preocupações imediatas com a vida quotidiana, como o emprego, a família e a saúde, podem ter prioridade sobre o acompanhamento de questões internacionais. Isso pode levar a uma desconexão com os eventos globais, dificultando a compreensão de suas implicações.

Ainda não se sabe como vai acabar tanto mais quando se liga à guerra no Médio Oriente. A situação global é extremamente incerta e volátil. Não há como prever com precisão como esses conflitos vão terminar ou quais serão as suas consequências a longo prazo, especialmente porque estão interligados de maneiras complexas. Ambos os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente não são isoláveis. Eles fazem parte de um contexto geopolítico mais amplo, onde as ações e reações de potências regionais e globais têm impacto uns sobre os outros. E isto porque os conflitos envolvem grandes potências como os Estados Unidos, a Rússia, e a China, cada uma buscando expandir ou proteger suas esferas de influência. O apoio que esses países oferecem aos lados envolvidos nesses conflitos pode escalá-los ou prolongá-los, porque ambos mexem com uma coisa essencial: gás e petróleo. A escassez de energia e o aumento dos preços podem ter repercussões globais, exacerbar tensões e influenciar decisões políticas em outros lugares.

O aumento das tensões em uma região pode ter efeitos cascata noutras partes do mundo. A instabilidade no Médio Oriente, por exemplo, pode alimentar o extremismo, levar a novas crises de refugiados, ou desencadear conflitos adicionais que atrapalham os esforços para resolver a guerra na Ucrânia, que continua sem uma resolução clara à vista. Embora haja tentativas de mediação e negociações esporádicas, a situação permanece tensa, com ambas as partes mostrando pouca disposição para concessões significativas. A guerra poderia continuar por anos, levando a um impasse prolongado, ou, em outro cenário, a escalada poderia levar a um conflito mais amplo envolvendo outros países.

Reflexão final:

A ONU é uma organização composta por 193 estados-membros, cada um com seus próprios interesses e prioridades. Isso significa que alcançar um consenso sobre como responder a crises complexas pode ser extremamente difícil. Em muitas situações, a ONU só consegue emitir declarações simbólicas ou medidas que são amplamente ignoradas por partes em conflito. A ONU não possui forças armadas próprias e depende dos estados-membros para fornecer tropas para missões de paz ou para implementar resoluções. Isso limita sua capacidade de intervir diretamente em conflitos, e muitas vezes resulta em respostas lentas ou ineficazes. As Nações Unidas foram criadas em um contexto pós-Segunda Guerra Mundial, com a ideia de prevenir conflitos entre estados. No entanto, muitos dos conflitos modernos, como guerras civis, terrorismo e conflitos híbridos, não se encaixam facilmente nesse modelo. A ONU tem lutado para adaptar suas estratégias e estruturas a essas novas realidades.

Apesar dessas limitações, a ONU continua a desempenhar um papel crucial em várias áreas: Assistência Humanitária - A ONU, através de suas várias agências, como o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), fornece assistência vital a milhões de pessoas afetadas por conflitos, desastres naturais e outras crises. Promoção de Direitos Humanos - A ONU continua a ser um fórum importante para a promoção e defesa dos direitos humanos. Embora seus esforços sejam, por vezes, limitados, a ONU fornece uma plataforma para discutir abusos e pressionar por mudanças. Mediação e Diplomacia - Em muitos conflitos, a ONU desempenha um papel de mediador, ajudando a negociar cessar-fogos e acordos de paz. Embora nem sempre bem-sucedida, essa função é essencial para a resolução pacífica de conflitos.

A ONU enfrenta desafios significativos em sua missão de manter a paz e a segurança internacional, especialmente em um mundo cada vez mais fragmentado e polarizado. A percepção de que a organização é ineficaz ou "apenas faz figura de corpo presente" reflete tanto as suas limitações estruturais quanto as dificuldades impostas pelas divisões geopolíticas. No entanto, a ONU ainda representa o melhor esforço coletivo da humanidade para abordar os problemas globais e continua a ser uma instituição vital, mesmo que imperfeita, na busca por um mundo mais pacífico e justo.

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