domingo, 1 de setembro de 2024

A Palestina/Judeia depois de Alexandre Magno



Após a morte de Alexandre Magno em 323 a.C., o vasto império que ele havia conquistado foi dividido entre os seus generais, conhecidos como os Diádocos. A Palestina, que havia sido parte do Império Persa e foi conquistada por Alexandre durante a campanha no Médio Oriente, tornou-se um território contestado entre esses generais. A Palestina caiu inicialmente sob o controlo do general Ptolomeu, que estabeleceu a dinastia ptolemaica no Egito. No entanto, a região também foi reivindicada pelos Selêucidas, outra dinastia helenística fundada por Seleuco I Nicator, outro dos generais de Alexandre.

A Palestina tornou-se um ponto de conflito entre os Ptolemeus e os Selêucidas, que lutaram pelo controlo da região em várias guerras conhecidas como as Guerras Sírias. A disputa durou mais de um século, e a Palestina alternou entre o controlo ptolemaico e selêucida. Durante o período em que esteve sob domínio helenístico, a Palestina experimentou um processo de helenização, que foi a disseminação da cultura grega na região. Cidades importantes, como Jerusalém, começaram a adotar elementos da cultura grega, incluindo língua, arte, religião e filosofia.

Finalmente, a Palestina caiu sob o domínio dos Selêucidas no início do século II a.C., após a vitória de Antíoco III sobre os Ptolemeus na Batalha de Panio em 198 a.C. Sob o governo selêucida, a helenização se intensificou, mas também surgiram tensões significativas com a população judaica local, especialmente devido às tentativas de Antíoco IV Epifânio de impor práticas religiosas gregas, o que levou à revolta dos Macabeus. Revolta dos Macabeus, que decorreu entre 167-160 a.C., foi uma rebelião judaica contra o domínio selêucida e a imposição da cultura helenística. Esse conflito culminou na restauração de um estado judeu semi-independente sob a dinastia dos Asmoneus.

Após a Revolta dos Macabeus, a Palestina passou por uma série de eventos históricos que moldaram significativamente a região. A revolta resultou na criação de um reino judaico independente sob a dinastia dos Asmoneus, mas esse período de autonomia não durou muito. O Reino Asmoneu durou entre 140 a.C. e 63 a.C. Após a vitória na revolta, os líderes judeus da família dos Macabeus, conhecidos como os Asmoneus, estabeleceram um reino independente na Judeia. Eles expandiram o território e fortaleceram a autonomia judaica. Sob os Asmoneus, a Judeia experimentou um período de relativa independência e expansão territorial. Os reis Asmoneus também adotaram o título de sumo sacerdote, consolidando o poder político e religioso.

No entanto, a dinastia Asmoneia enfrentou problemas internos, incluindo lutas de poder e tensões religiosas entre os judeus mais tradicionalistas e aqueles que adotavam práticas helenísticas. Foi então que a independência asmoneia começou a desmoronar-se devido a conflitos internos e à crescente influência de Roma na região. Em 63 a.C., o general romano Pompeu invadiu a Palestina durante uma campanha militar no Médio Oriente. Aproveitando-se das disputas internas entre os asmoneus, Pompeu interveio na região e a colocou sob domínio romano. A partir desse ponto, a Palestina passou a ser governada como parte do vasto Império Romano, inicialmente sob a forma de um reino cliente.

A dinastia dos Asmoneus foi finalmente deposta por Herodes, o Grande, nomeado rei da Judeia pelos romanos em 37 a.C. Herodes era um governante ambicioso e, apesar de não ser etnicamente judeu, conseguiu assegurar o reinado com o apoio de Roma. Ele é conhecido por suas grandiosas obras de construção, incluindo a ampliação do Segundo Templo em Jerusalém, mas também por sua brutalidade e paranoia, que incluía a execução de vários membros de sua própria família. Herodes manteve uma paz relativa e a prosperidade na região, mas a sua morte em 4 a.C. levou à divisão do reino entre seus filhos, o que resultou em instabilidade política.

Após a morte de Herodes, a região foi dividida entre seus filhos e permaneceu sob controlo indireto romano até que, em 6 d.C., a Judeia foi transformada em uma província romana governada por procuradores romanos, um dos quais foi Pôncio Pilatos. No tempo de Pôncio Pilatos, a região era conhecida principalmente como Judeia. Pôncio Pilatos serviu como procurador romano da Judeia de 26 a 36 d.C. A província da Judeia incluía não apenas a região em torno de Jerusalém, mas também partes da Samaria e Idumeia.



Modelo do Segundo Templo de Jerusalém no tempo de Herodes

A província da Judeia foi estabelecida pelos romanos após a deposição do último rei herodiano, Arquelau, em 6 d.C. A região foi diretamente governada por procuradores romanos, dos quais Pilatos foi um dos mais conhecidos. O nome "Palestina" como designação oficial para a região só se tornou amplamente utilizado após a Revolta de Bar Kokhba (132-136 d.C.), quando o imperador Adriano renomeou a província de Judeia para Síria Palestina em um esforço para suprimir a identidade judaica da região. O nome "Palestina" deriva dos filisteus, um povo que habitava a costa sudoeste da região na antiguidade, mais ou menos onde hoje é Gaza.

É possível falar de uma biografia histórica de Jesus Cristo, embora com algumas limitações significativas. A vida de Jesus de Nazaré é um tema de grande interesse tanto para a fé cristã quanto para os estudos históricos. No entanto, quando se fala em "biografia histórica" de Jesus, é importante entender que ela se baseia em fontes e métodos que têm suas próprias limitações. As fontes principais sobre a vida de Jesus são os Evangelhos do Novo Testamento – Mateus, Marcos, Lucas e João. No entanto, esses textos foram escritos décadas após a morte de Jesus, por autores que tinham objetivos teológicos específicos. Por isso, os Evangelhos não são biografias no sentido moderno, mas sim documentos de fé que buscam transmitir a mensagem e a importância de Jesus para os primeiros cristãos.

Além dos Evangelhos, há algumas referências a Jesus em fontes não cristãs antigas, como os escritos do historiador judeu Flávio Josefo e os textos dos historiadores romanos Tácito e Suetónio. No entanto, essas menções são breves e muitas vezes em segunda mão. Os historiadores que estudam a vida de Jesus usam métodos críticos para tentar distinguir os elementos históricos das tradições teológicas. Esse processo inclui: Crítica textual – Análise das diferentes versões e manuscritos dos Evangelhos para entender o que pode ser mais próximo dos eventos originais; Crítica das fontes – Avaliação das fontes disponíveis para entender seus contextos, intenções e credibilidade; Contextualização histórica – Colocar Jesus no contexto do judaísmo do Segundo Templo, da ocupação romana e das tradições messiânicas da época.

A maioria dos historiadores concorda que Jesus foi uma figura histórica real, um pregador judeu que viveu no início do século I na Palestina. Jesus provavelmente foi um pregador itinerante que proclamava o Reino de Deus e realizava curas e outros atos milagrosos, segundo os relatos. É amplamente aceite que Jesus foi crucificado por ordem de Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, por volta do ano 30 d.C. Este é um dos eventos mais bem atestados historicamente em sua biografia.

Não há escritos contemporâneos de Jesus que tenham sobrevivido, e os Evangelhos foram escritos por volta de 30 a 70 anos após a sua morte. As fontes disponíveis foram escritas com a intenção de promover a fé cristã, o que torna difícil separar o histórico do teológico. Há várias interpretações sobre quem Jesus foi historicamente – desde um profeta apocalíptico até um sábio itinerante ou um líder messiânico – e essas visões influenciam a reconstrução da sua biografia. Embora não seja possível escrever uma biografia completa de Jesus Cristo nos moldes das biografias modernas devido às limitações das fontes e à distância temporal, é possível reconstruir alguns aspetos de sua vida e impacto histórico. Os estudos históricos fornecem um esboço geral de sua vida e contexto, mas qualquer biografia de Jesus também precisa lidar com a tensão entre a figura histórica e a figura teológica que é central para a fé cristã.

A vida na Judeia no tempo de Jesus Cristo (aproximadamente entre o final do século I a.C. e o início do século I d.C.) era marcada por uma mistura de influências culturais, tensões políticas e religiosas, e condições socioeconómicas desafiadoras. A Judeia estava sob o controlo do Império Romano desde 63 a.C., quando Pompeu conquistou a região. No tempo de Jesus, a província era governada por um procurador romano, como Pôncio Pilatos, que representava a autoridade imperial e era responsável por manter a ordem e cobrar impostos. A presença de guarnições romanas era constante, especialmente em Jerusalém, onde a Fortaleza Antónia, próxima do Templo, abrigava soldados para monitorar e reprimir qualquer sinal de rebelião. A população estava sobrecarregada com impostos pesados, tanto para o Império Romano quanto para as autoridades locais, como os herodianos. Esse sistema de tributos causava grande insatisfação entre os habitantes.

A sociedade judaica era fortemente hierarquizada, com uma divisão clara entre ricos e pobres. A maioria da população era composta por camponeses, artesãos e pescadores que viviam em condições modestas. Havia também uma elite sacerdotal e aristocrática que controlava grande parte da riqueza e do poder. A agricultura era a base da economia, com produtos como trigo, cevada, uvas e azeitonas sendo cultivados. O comércio também era importante, especialmente em cidades como Jerusalém, que atraíam comerciantes de várias regiões. A maior parte da população vivia em pequenas aldeias rurais, onde a vida era simples e focada no sustento próprio. Nas cidades, especialmente em Jerusalém, havia uma vida mais complexa, com mercados, sinagogas, e o Templo como centro religioso e económico.

O judaísmo dominava a vida na Judeia. O Templo em Jerusalém era o coração da vida religiosa, onde os judeus ofereciam sacrifícios e participavam de importantes festivais como a Páscoa (Pesach). A sinagoga também era um centro importante para a vida comunitária, onde as escrituras eram lidas e discutidas. Havia várias seitas e grupos religiosos, como os fariseus, saduceus, essénios e zelotes, cada um com as suas próprias interpretações da lei judaica e seu papel na sociedade. Essas divisões muitas vezes resultavam em tensões internas. A expectativa de um Messias, um líder que libertaria os judeus do domínio romano e restauraria o reino de Israel, estava em alta. Jesus de Nazaré foi uma figura central neste contexto, pregando uma mensagem de reforma espiritual e social.

O domínio romano era visto como uma ocupação estrangeira e causava grande ressentimento. A insatisfação popular frequentemente resultava em movimentos de resistência e revoltas, como as lideradas pelos zelotes. Além da tensão com os romanos, havia conflitos internos entre diferentes grupos judeus sobre como responder à ocupação. Enquanto alguns defendiam a cooperação com Roma, outros, como os zelotes, pregavam a resistência armada. A cidade era o centro religioso, político e económico da Judeia. Durante os festivais religiosos, especialmente a Páscoa, a população de Jerusalém aumentava significativamente com a chegada de peregrinos. O Segundo Templo era o símbolo máximo da identidade judaica. Além de seu papel religioso, ele também tinha funções económicas, como arrecadar tributos e servir como um centro bancário de facto. A administração do Templo era controlada pela elite sacerdotal, que frequentemente colaborava com os romanos.

A maioria das pessoas vivia em casas simples, feitas de pedra ou barro, com poucas divisões. A vida diária girava em torno de tarefas agrícolas, artesanais ou comerciais. As famílias eram a unidade básica da sociedade, com uma estrutura patriarcal. A vida familiar era centrada na observância religiosa e nas tradições judaicas. A dieta era simples e baseada em produtos locais, como pão, azeitonas, figos, peixe e ocasionalmente carne de cordeiro, que era consumida em ocasiões especiais.

Em suma, a vida na Judeia durante o tempo de Jesus era marcada por uma combinação de profunda religiosidade, tensões políticas, dificuldades económicas e uma sociedade fortemente estruturada. Esse ambiente moldou as mensagens e o ministério de Jesus, que pregou a transformação espiritual e a justiça social no meio de um contexto de opressão e expectativa messiânica.

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