segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A intersubjetividade que não existe num robô



A diferença entre a percepção-ação de um robô e a percepção-situação de um ser humano é fundamentalmente ligada ao conceito de intersubjetividade, que é uma característica distintiva da experiência humana. Os robôs geralmente operam com base em um modelo de percepção-ação. Isso significa que eles percebem o ambiente por meio de sensores e executam ações com base nas informações que recebem. O sistema de controlo de um robô pode ser programado para captar dados do ambiente através de câmaras, sensores de proximidade, microfones, etc. E depois analisa esses dados usando algoritmos que podem incluir técnicas de aprendizado de máquina ou regras predefinidas. E pode executar movimentos ou respostas com base na análise dos dados. Isso pode envolver manipulação de objetos, navegação em um espaço, ou outras tarefas específicas.

Esse ciclo de percepção-ação é tipicamente baseado em algoritmos e não envolve um entendimento profundo ou consciente do ambiente. A interação do robô com o mundo é direta e pragmática, focada na execução de tarefas de acordo com programação ou treinamento pré-estabelecido. Para os seres humanos, a percepção não é apenas uma questão de captar informações e agir sobre elas, mas envolve um profundo nível de intersubjetividade. A percepção-situação humana está imersa em contextos culturais, sociais e emocionais que influenciam como interpretamos o ambiente e como reagimos a ele.

Contextualização e Significado – Os humanos interpretam o ambiente com base em experiências passadas, conhecimento cultural e contexto social. O que percebemos e como reagimos é moldado por nossa compreensão das situações, que inclui aspetos como normas sociais, relações interpessoais e valores culturais. A capacidade dos humanos de compartilhar e compreender experiências subjetivas com outros é um aspeto fundamental da intersubjetividade. Isso significa que podemos comunicar e interpretar experiências pessoais, sentimentos e significados compartilhados com outros indivíduos. Essa capacidade de entender e se conectar com o estado interno de outros é algo que os robôs, até ao momento, não possuem.

Intencionalidade e Reflexividade – Os humanos são capazes de refletir sobre suas próprias percepções e ações, bem como considerar as intenções e estados mentais dos outros. Esse nível de reflexividade e compreensão da própria posição dentro de um contexto social é uma parte importante da experiência humana. Enquanto os robôs geralmente seguem regras ou algoritmos predefinidos, os humanos podem adaptar a sua percepção e ação com base em novas informações e mudanças no contexto. Isso inclui a capacidade de responder a situações inesperadas e modificar comportamentos com base em uma compreensão mais ampla do ambiente e das interações sociais.

A intersubjetividade permite que os humanos se conectem e comuniquem experiências de maneira complexa e rica. As interações humanas são moldadas por um entendimento mútuo das emoções, intenções e significados, o que é essencial para a comunicação e para a construção de relações sociais. A comunicação entre humanos é baseada em significados compartilhados que vão além do nível superficial das palavras e sinais. Ela envolve uma compreensão mútua do contexto, das intenções e das experiências. A capacidade de sentir empatia e entender as perspetivas dos outros é central para a interação social humana. Isso permite que os humanos se conectem em níveis profundos e construam relações baseadas em compreensão mútua e suporte emocional. A percepção humana é moldada pela cultura e pelo contexto social, o que influencia a forma como interpretamos e reagimos a eventos. Essa contextualização é algo que os robôs não possuem, pois não têm uma compreensão cultural ou social que vá além de dados programados.

Implicações para a Robótica e Inteligência Artificial

Embora a robótica e a inteligência artificial estejam avançando rapidamente, a verdadeira intersubjetividade — a capacidade de compreender e compartilhar experiências subjetivas com outros seres humanos — permanece um desafio significativo. Robôs e sistemas de IA podem simular certos aspetos da interação humana e podem processar informações de forma eficaz, mas ainda não possuem a capacidade de experimentar ou compreender a complexidade da experiência humana da mesma maneira. Futuras inovações na IA e na robótica podem buscar melhorar a capacidade dos sistemas de entender e responder de maneira mais sofisticada a contextos sociais e culturais. No entanto, a questão de se esses sistemas poderão realmente alcançar uma forma de intersubjetividade semelhante à humana é uma questão em aberto e um tópico de debate filosófico e técnico.

A consideração ética sobre como interagimos com máquinas que simulam aspetos da interação humana é importante. A compreensão dos limites da IA e dos robôs em relação à experiência e à compreensão humanas pode informar práticas e diretrizes para o desenvolvimento e o uso dessas tecnologias. A perceção humana intersubjetiva dirige-se à forma como as intenções se exprimem noutros seres humanos e não apenas meras expressões sensoriais objetivas. A percepção humana intersubjetiva é fundamentalmente diferente da percepção meramente sensorial ou objetiva, pois se direciona à compreensão das intenções e dos estados mentais de outros seres humanos.

A teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais a si mesmo e aos outros. Isso inclui a compreensão de crenças, desejos, intenções e emoções que não são diretamente visíveis. Por exemplo, quando vemos alguém franzindo a testa e cruzando os braços, podemos interpretar isso como uma sinalização de descontentamento ou frustração, mesmo que a pessoa não tenha dito nada explicitamente. A percepção intencional envolve a capacidade de inferir o propósito e os objetivos das ações dos outros. Essa habilidade é essencial para a interação social e permite que os seres humanos colaborem, negociem e se comuniquem efetivamente.

As expressões faciais e a linguagem corporal fornecem pistas importantes sobre os estados emocionais e as intenções dos outros. A leitura dessas expressões é um componente essencial da comunicação interpessoal e da compreensão das intenções. A maneira como algo é dito, incluindo a entoação e o tom de voz, pode revelar informações sobre as intenções e sentimentos. A interpretação desses aspetos da comunicação é crucial para entender o contexto emocional e a intenção por trás das palavras.

A empatia é uma parte central da percepção intersubjetiva. Ela envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro e experimentar, de forma vicariante, suas emoções e estados mentais. A empatia cognitiva refere-se à capacidade de entender o que os outros estão pensando ou sentindo, enquanto a empatia emocional envolve a experiência direta das emoções dos outros. Ambas são importantes para a interação social e para construir conexões significativas com os outros. A capacidade de reconhecer e responder às emoções dos outros é uma parte crucial da comunicação interpessoal. Isso permite que os indivíduos se ajustem às necessidades emocionais dos outros e respondam de maneira adequada. Os humanos também têm a capacidade de interpretar expressões subjetivas complexas, como ironia, sarcasmo e humor, que dependem de uma compreensão mais profunda das intenções e do contexto.

A interpretação de ironia e sarcasmo exige uma leitura mais complexa das intenções por trás das palavras, além do significado literal. Isso envolve uma compreensão de que o que está sendo dito pode ser oposto ao que se quer dizer. O humor frequentemente depende da capacidade de captar nuances e significados contextuais, bem como da compreensão das intenções por trás de uma piada ou situação engraçada.

Enquanto os robôs podem ser programados para responder a comandos e interpretar sinais sensoriais, eles não possuem a capacidade de entender ou interpretar intencionalidade e significados subjetivos da mesma forma que os humanos. Eles operam com base em dados e algoritmos, sem uma verdadeira compreensão ou consciência das intenções e experiências subjetivas. Robôs e sistemas de IA podem simular respostas a sinais e comandos, mas essa simulação não é acompanhada de uma compreensão real das intenções ou emoções. Eles não possuem uma teoria da mente ou a capacidade de experimentar intersubjetividade.

Embora a IA possa ser programada para reconhecer padrões e responder a dados, a verdadeira interpretação das intenções humanas e a capacidade de se conectar emocionalmente permanecem fora de alcance para as tecnologias atuais.

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