sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Quando Alexandre Magno fundou a cidade de Alexandria em 331 a.C., as terras da Palestina estavam sob o controlo do Império Persa


Especificamente, a Palestina fazia parte da província persa conhecida como Satrapia da Síria, que incluía outras regiões do Levante. O Império Persa, governado na época pelo rei Dario III, controlava vastas áreas do Médio Oriente, incluindo a Palestina, após a conquista do Império Babilónio em 539 a.C. por Ciro, que era persa. No entanto, essa situação mudou drasticamente quando Alexandre Magno iniciou a sua campanha contra o Império Persa. Após a vitória decisiva de Alexandre na Batalha de Issos, em 333 a.C., o poder persa começou a desmoronar. Em 332 a.C., Alexandre conquistou a Palestina, incluindo a cidade de Tiro, e continuou a sua marcha para o Egito, onde fundou Alexandria no ano seguinte. Assim, durante a fundação de Alexandria, a Palestina estava em processo de transição, passando do controlo persa para o domínio de Alexandre e, consequentemente, para a cultura grega, ou mais precisamente helenística.




Na época em que Alexandre Magno conquistou a região, ela já era conhecida por nomes semelhantes a "Palestina". O termo "Palestina" deriva do nome "Filistia" ou "Peleset", que os antigos egípcios usavam para se referir à região costeira habitada pelos filisteus, um povo que vivia na área que hoje corresponde ao sul de Israel e à Faixa de Gaza. Os gregos adaptaram esse nome para "Palestina" (Παλαιστίνη), e ele acabou por ser usado de forma mais ampla para descrever toda a região que incluía a Judeia, Samaria, Galileia e outras áreas circunvizinhas. Heródoto, o historiador grego que viveu no século V a.C., é uma das primeiras fontes conhecidas a usar o termo "Palestina" (ou "Síria Palestina") para descrever a região que correspondia, grosso modo, ao que conhecemos hoje como Israel, Palestina, e partes da Jordânia e do Líbano. Portanto, no tempo de Alexandre Magno, o nome "Palestina" já era conhecido e utilizado pelos gregos para se referir àquela região, embora as fronteiras e o uso do termo não fossem exatamente como os conhecemos hoje.

No período em que Alexandre Magno conquistou a Palestina, a região era habitada por uma variedade de povos e grupos étnicos. A Palestina, situada numa encruzilhada de civilizações, servia de ponte entre o Egito, a Mesopotâmia e o Mediterrâneo, o que contribuiu para a sua diversidade populacional. Alguns dos principais grupos que habitavam a região nessa época incluíam: judeus; samaritanos; filisteus; fenícios; edomitas e idumeus. Os judeus eram um dos grupos mais importantes da região, especialmente concentrados na Judeia, com Jerusalém como o centro religioso e cultural. Após o retorno do Exílio na Babilónia, no século VI a.C., a população judaica na Palestina havia-se restabelecido, reconstruído o Templo de Jerusalém e continuado a viver na região sob o domínio persa até a chegada de Alexandre. Os samaritanos eram outro grupo significativo, que habitava a região central da Palestina, principalmente em torno da cidade de Samaria. Eles compartilhavam uma origem comum com os judeus, mas desenvolviam práticas religiosas distintas, o que levava a tensões entre os dois grupos. 

Embora o poder dos filisteus tivesse diminuído significativamente desde o auge de sua civilização no início do primeiro milénio a.C., é natural que no tempo de Alexandre Magno os descendentes dos filisteus, e comunidades associadas, ainda estivessem presentes em algumas áreas, especialmente na costa sul da Palestina, em cidades como Gaza, Ascalão e Asdode. Embora a principal área de assentamento fenício fosse mais ao norte, na região do atual Líbano, eles tinham influência e presença em algumas áreas costeiras da Palestina, dado o seu papel como comerciantes marítimos. O povo de Edom, os edomitas que habitavam originalmente ao sul da Palestina, nas terras ao redor do Mar Morto, passou a ocupar parte do sul da Judeia e do Neguev, especialmente durante e após o período do Exílio na Babilónia, tornando-se conhecidos como idumeus. Além desses grupos principais, havia outras populações locais e minorias, incluindo cananeus remanescentes e outras tribos semitas que tinham raízes antigas na região, além de comerciantes e imigrantes atraídos pelo comércio e utilizavam as rotas estratégicas que cruzavam a Palestina.

Essa mistura de povos reflete a complexidade cultural e étnica da Palestina durante esse período, o que continuou a ser uma característica da região ao longo da história, especialmente à medida que novas potências, como os gregos e posteriormente os romanos, impuseram sua influência sobre a área. Após a morte de Alexandre Magno em 323 a.C., o vasto império que ele havia conquistado foi dividido entre seus generais, os chamados Diádocos, que lutaram pelo controlo das diferentes partes do império. Essa divisão levou a uma série de conflitos conhecidos como as Guerras dos Diádocos. A Palestina, situada numa região estrategicamente importante, tornou-se objeto de disputa entre dois dos sucessores de Alexandre: Ptolomeu (que governava o Egito) e Seleuco (que governava as regiões da Mesopotâmia e da Síria). Essa disputa levou a várias mudanças de alternância de poder e controlo da região.

Inicialmente, Ptolomeu I Soter, um dos generais de Alexandre que estabeleceu a dinastia Ptolemaica no Egito, conseguiu tomar o controlo da Palestina por volta de 320 a.C. Sob o domínio ptolomaico, a Palestina fez parte do Egito Ptolemaico durante cerca de cem anos anos. No entanto, por volta de 200 a.C., durante as Guerras Sírias entre os Ptolomeu e os Selêucidas, a Palestina foi conquistada pelo rei selêucida Antíoco III, o Grande, na Batalha de Panião (198 a.C.). Isso marcou o início do domínio selêucida sobre a Palestina. Assim, a Palestina esteve sob o controlo dos Ptolomeu do Egito durante o século III a.C., e, depois de 200 a.C., passou a fazer parte do Império Selêucida, que abrangia a Síria e a Mesopotâmia. O domínio selêucida durou até à Revolta dos Macabeus no século II a.C., que levou ao estabelecimento do Reino dos Asmoneus, que era um estado judaico independente na região.

Na época das conquistas de Alexandre Magno, e durante o subsequente domínio dos Ptolomeu e Selêucidas na Palestina, a presença de povos de etnia originária da Arábia na região não era significativa, se comparada aos grupos estabelecidos como os judeus, samaritanos, e outros habitantes locais. No entanto, é importante considerar que tribos árabes já estavam presentes em áreas próximas e que algumas poderiam ter tido algum contacto ou mesmo presença na Palestina, especialmente nas regiões desérticas do sul e leste. Essas tribos eram praticamente nómadas e habitavam principalmente a península Arábica, a Transjordânia, e partes do Sinai. Entre essas tribos, podemos citar os nabateus, um grupo árabe que começou a se estabelecer mais solidamente na região do atual sul da Jordânia, ao redor de Petra, durante o período helenístico (após a morte de Alexandre). Os nabateus controlavam rotas comerciais importantes que passavam por essas áreas que ligavam a Arábia ao Mediterrâneo, e eventualmente exerceram influência nas regiões adjacentes à Palestina. A influência árabe na Palestina cresceu muito mais tarde, especialmente com a expansão do Islão no século VII d.C.

Na época de Alexandre Magno (século IV a.C.), a Península Arábica não era unificada sob um único regime ou governo centralizado. Em vez disso, a região era habitada por várias tribos e clãs que viviam de maneira relativamente autónoma, organizando-se em sistemas tribais, cada um com as suas próprias estruturas de liderança. A organização social predominante era baseada em tribos e clãs, onde o poder e a autoridade eram exercidos por líderes tribais (xeiques ou chefes). Esses líderes tinham influência sobre os membros da tribo, tomando decisões em nome do grupo, especialmente em questões de guerra, comércio, e alianças. As tribos árabes eram em grande parte nómadas, vivendo da criação de animais, do comércio de caravanas, e da agricultura em oásis. Rotas comerciais importantes, como a rota do incenso, atravessavam a Arábia, conectando o sul da península (onde ficavam reinos como o de Sabá) com o Mediterrâneo e a Mesopotâmia. As tribos que controlavam essas rotas tinham considerável poder e influência económica.

No sul da Arábia, principalmente na atual região do Iémen, existiam reinos mais organizados, como o Reino de Sabá e o Reino de Hadramaut. Esses reinos eram conhecidos por sua agricultura avançada (graças ao sistema de irrigação do Marib) e pelo comércio de incenso e mirra. Estes reinos tinham uma monarquia, com reis que governavam sobre a população sedentária, diferente das tribos nómadas do norte. A Península Arábica, em grande parte, manteve-se à margem das grandes conquistas de Alexandre e dos impérios que se formaram após a sua morte. A geografia difícil da região, composta por desertos e montanhas, junto com a autonomia das tribos, fez com que a Arábia permanecesse relativamente isolada dos centros de poder do Médio Oriente - Pérsia, Grécia e Roma.




A Nabateia e sua capital, Petra, começaram a ganhar importância a partir do século IV a.C. e se tornaram um centro significativo de poder e comércio nos séculos seguintes. O auge de sua influência ocorreu entre os séculos II a.C. e I d.C. Acredita-se que os nabateus, uma tribo árabe nómada, começaram a se estabelecer na região por volta desse período. Eles se concentraram em torno de Petra, uma área montanhosa e naturalmente fortificada que oferecia proteção e controlo estratégico sobre as rotas comerciais. Durante esses séculos, os nabateus começaram a se consolidar como uma força regional, aproveitando-se do declínio de outras potências locais, como os edomitas. Eles estabeleceram controlo sobre importantes rotas comerciais que atravessavam o deserto da Arábia, conectando o sul da Península Arábica, onde se produzia incenso e mirra, com o Mediterrâneo e o Próximo Oriente. Essas rotas eram vitais para o comércio de especiarias, incenso, ouro, e outros bens valiosos.




Petra cresceu em importância não apenas por sua localização estratégica, mas também por suas impressionantes construções esculpidas nas rochas, como o famoso Tesouro (Al-Khazneh). A riqueza gerada pelo comércio permitiu que os nabateus desenvolvessem uma cultura distinta e sofisticada, combinando influências árabes com elementos helenísticos, devido ao contacto com o mundo grego e romano. O auge de Petra ocorreu entre o século I a.C. e o século I d.C. Petra era um centro de comércio florescente, e os reis nabateus, como Aretas IV (governou de 9 a.C. a 40 d.C.), eram poderosos e respeitados. A cidade atraiu a atenção do Império Romano, que reconheceu a importância económica e estratégica da região.




O Reino Nabateu foi anexado pelo Império Romano sob o imperador Trajano em 106 d.C. tornando-se a província romana da Arábia Pétrea. Embora a Nabateia tenha perdido a sua independência política, Petra continuou a ser um importante centro comercial e cultural por algum tempo, embora o seu papel tenha diminuído à medida que novas rotas comerciais surgiram e o Império Romano se reestruturou. Petra e a Nabateia deixaram um legado duradouro, visível nas ruínas espetaculares que atraem turistas e estudiosos até hoje. A cidade de Petra é agora um Património Mundial da UNESCO e um dos locais arqueológicos mais visitados do mundo.

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