segunda-feira, 23 de junho de 2025

A propósito dos aviões B-2 Spirit




Os bombardeiros furtivos B-2 Spirit, utilizados pelos Estados Unidos no ataque às instalações nucleares iranianas no dia 21 deste mês de junho, são uma das aeronaves mais avançadas do arsenal norte-americano e, até hoje, único do mundo. Projetado para escapar aos radares inimigos, o B-2 pode atravessar grandes distâncias sem ser detetado, transportar armamento nuclear ou convencional, e atingir alvos altamente protegidos com precisão cirúrgica. Foram eles que transportaram as chamadas bombas antibúnker GBU-57, de 13.600 quilos, desenhadas para penetrar estruturas enterradas a grande profundidade, como é o caso das instalações de Fordow, no Irão, escavadas numa encosta montanhosa.

A luta pela sobrevivência não é uma batalha moral ou de "boas intenções", mas uma constante adaptação a uma realidade que sempre foi brutal. Se olharmos para os nossos ancestrais, percebemos que os mais fortes, os que se adaptaram, mesmo contrariados, mas mais astutos, foram os que conseguiam perpetuar a descendência e fizeram com que fôssemos nós que estivéssemos hoje aqui e não outros completamente diferentes. Em bom rigor nunca houve lugar para os mais fracos. O que também se pode dizer por outras palavras: os mais corajosos, os menos indecisos, os que menos pensavam na morte da bezerra. A morte da bezerra era a consequência natural para os que não se conseguiam adaptar. Este cenário moldou, de forma inegável, as características fundamentais do ser humano, e até mesmo os valores éticos que promovem a cooperação, a solidariedade, e o cuidado em nossas sociedades contemporâneas.

Também é natural que hoje em dia os bons pensadores de sofá dos dias de hoje, na sua maioria, abominam o que foi dito no parágrafo anterior porque, para além de terem estado a salvo dos grandes perigos, nunca lhes passou pela cabeça do que era preciso fazer para terem um abrigo, comida na mesa, e roupa lavada. Tudo isso sempre esteve garantido. Por isso, sempre tiveram todo o tempo do mundo para pensar. Por isso, o facto de essa luta constante pela sobrevivência ter desapercebido dos radares de muitos pensadores e intelectuais modernos, passou a ser mais um problema do que uma boa solução para as intempéries com que agora somos assolados.

Hoje não faltam intelectuais que militam como ativistas contemporâneos por um determinado número de causas que vituperam a civilização ocidental. Parece que ignoram que esta civilização que desfrutam é, em grande parte, o resultado da luta incansável de gerações passadas. A história foi marcada por guerras, massacres, tensões sociais e desigualdades que foram necessárias para a formação das sociedades que agora criticam com tanta facilidade. Faz parte da história da sobrevivência da espécie. A luta pela dominância, proteção do grupo e autossuficiência foi uma característica essencial de muitas culturas antigas, desde os tempos das grandes migrações do degelo que deram lugar às guerras tribais. Ou seja, as guerras, que fazem parte da toda a história da humanidade, estão centradas na necessidade de proteção contra a extinção.

Por isso, muito intelectual está na verdade desconectado dessa história crua de sobrevivência, onde as decisões, muitas vezes, envolviam a exclusão dos mais fracos para garantir que os mais aptos sobrevivessem. É preciso entender essa dura realidade para apreciar como a civilização moderna chegou ao ponto a que chegou. No enfrentamento com a Natureza, ela sempre foi cruel. Há uma contradição curiosa em muitos dos debates de hoje: enquanto muitos defendem valores de igualdade, justiça social e compaixão, há uma falta de reconhecimento de que tais princípios, embora essenciais para a sociedade moderna, não surgiram de um mundo pacífico e igualitário. Eles são, na verdade, construções culturais recentes que emergiram em contextos de grande violência e desigualdade. A questão que se coloca, portanto, é: até que ponto podemos ignorar a natureza mais implacável e o contexto evolutivo que moldou o homem moderno? Serão os "valores humanistas" que hoje defendemos suficientes para encarar a dureza da realidade, ou estamos a viver uma ilusão de que a civilização nos vai proteger de ameaças que ainda são muito reais, embora não tão óbvias como eram no passado?

Sem as qualidades tradicionais -- coragem, competitividade, e a luta pelo bem-estar próprio e coletivo -- não haveria civilização, nem progresso. Não se trata de elogiar a brutalidade, mas de entender que há momentos em que a sobrevivência exigiu decisões duras e ações que, para nós hoje, podem parecer cruéis ou até antiéticas, mas que eram, na sua essência, necessárias para a continuação da espécie. Viver num mundo de paz e prosperidade não é a norma histórica, mas uma exceção que surge de um processo de seleção constante, de um confronto com a natureza e com a luta pela sobrevivência. Acreditar que a humanidade pode simplesmente abrir mão de certas qualidades, como a luta pela sobrevivência ou a seletividade adaptativa, é um engano. Não podemos desconsiderar as duras realidades que ainda marcam muitas partes do mundo e que podem, em última instância, afetar todos nós.

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