quarta-feira, 11 de junho de 2025

Pathos e ethos na filosofia grega. Emoção como forma de conhecimento


Pathos (πάθος) significa literalmente -- "aquilo que se sofre", "aquilo que se sente". É o campo das emoções, dos sentimentos, das paixões. Mas na Grécia Antiga, o pathos não era uma coisa negativa, mas uma força que nos fazia ver como era a realidade nua e crua do mundo humano. Uma maneira autêntica de experimentar a realidade que não queremos. No teatro grego -- as tragédias de Sófocles, Ésquilo, Eurípides -- o espectador era "arrebatado" pelo pathos. As pessoas sentiam dentro de si o sofrimento do herói. O herói na tragédia grega simboliza o destino a que um mortal não pode fugir.

Ethos (ἦθος) é outra coisa: é o caráter, a postura, o modo de ser que molda a nossa ação no mundo. No contexto grego, especialmente em Aristóteles (Retórica), o ethos é a maneira como um indivíduo apresenta a sua credibilidade, a sua "autoridade moral". Não é só a moralidade em si, mas o tom, o estilo de vida, a coerência entre palavras e atos. O ethos é a maneira como a nossa alma se manifesta no mundo. E, através disso, como somos percebidos pelos outros.

Como Pathos e Ethos se ligam à intuição sábia? Quando falamos de sabedoria intuitiva, como a dos poetas ou do povo nas assembleias irritadas com os políticos, estamos numa conjugação entre Pathos (sentir profundamente as coisas, captar a verdade através da emoção, da dor, da esperança, da desilusão) -- e Ethos (a apresentação dessas percepções de modo autêntico, com um estilo de vida ou expressão que corresponde à verdade interior). A sabedoria popular, bem como a dos poetas, não vem só de sentir (pathos), nem só de ter caráter (ethos). Vem de sentir profundamente e expressar isso com autenticidade. É por isso que um simples provérbio -- "quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga" -- pode ter mais verdade de vida do que muitos tratados de filosofia moral. A verdadeira intuição sábia é aquela onde pathos e ethos estão unidos. É preciso sentir profundamente a vida, e expressá-la com verdade.

O Camelo (aquele que carrega pesos, obedecendo a regras impostas); o Leão (aquele que se rebela e diz "não" aos antigos senhores e mandamentos);  a Criança (a última metamorfose, aquele que cria novos jogos, novas regras, novo sentido, livremente) -- Eis o pathos da existência em movimento que Nietzsche descreve nas três metamorfoses do espírito. A metáfora de Nietzsche quando fala do espírito de criança no Assim Falava Zaratustra. O Übermensch é como uma criança. Não porque seja ingénuo, mas porque é livre para criar, mesmo sabendo que existe um abismo. Nietzsche escreve: "O espírito torna-se criança: um novo começo, um jogo, uma roda que gira por si mesma, um primeiro movimento, um sagrado dizer Sim." Pathos (sentir a vida) + Ethos (criar o modo de viver) = Übermensch. ethos de nunca se fixar numa ilusão da perfeição. Ambos são, à sua maneira, manifestações dessa intuição nietzschiana: não há um porto seguro eterno. Há o mar aberto da vida. 

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