domingo, 1 de junho de 2025

O Zen e o Tao


Existem laços profundos entre Taoismo e Zen. O Zen nasce muito mais tarde, quando o Budismo da Índia chega à China e encontra o espírito do Tao. O Budismo traz a ideia de impermanência e vazio. O Tao já tem a ideia de um viver sem forçar e sem buscar explicações. O casamento dos dois dá o Zen: um modo direto, simples e natural de viver, sem buscar sentidos fixos, sem necessidade de dogmas.

No Zen, não há "Deus" criador, nem sentido cósmico fixo. A existência simplesmente é. E isso basta. Sofremos porque desejamos que as coisas sejam diferentes do que são. A sabedoria é aceitar radicalmente o vazio (Shunyata), a impermanência (Anicca), a ausência de um "eu" fixo (Anatta). É estar totalmente presente na vida, momento a momento. Agir sem esperar recompensas cósmicas. Ver o Universo como uma dança de fenómenos sem princípio nem fim. Antes de começar a pensar vai-se cortar lenha e carregar água. Depois de pensar, cortar lenha e carregar água (Provérbio Zen). Aceita o que é, não dramatiza, vive de forma simples e pés assentes na terra, como parte do fluxo de tudo.

Zen é uma escola do budismo que se formou na China (como Chan), depois passou para o Japão (como Zen), e espalhou-se pelo mundo. É um ramo do Mahayana ("Grande Veículo") budista, mas cortou radicalmente com a tendência de criar explicações filosóficas complicadas. O Zen não se interessa muito por doutrinas ou teorias. Interessa-se pela experiência direta da realidade. Com o Zen podes ficar ciente da realidade tal como é, e não cheio de conceitos. O “eu”, uma entidade dura e fixa como uma rocha, é uma ilusão. Não há um "eu" separado do mundo. Na prática, o que chamamos "eu" é apenas um conjunto de processos, como pensamentos, emoções, impulsos, fluindo e mudando o tempo todo. Nada é fixo, tudo é impermanente. Não há "coisas" fixas, tudo são processos transitórios. Desde uma montanha até uma emoção, tudo nasce, cresce, morre, desaparece e volta a aparecer de outra maneira.

O sofrimento vem da resistência à verdade nua e crua. Sofremos porque queremos que o mundo seja como imaginamos, e não como ele é. Quando aceitamos verdadeiramente a impermanência, o sofrimento diminui drasticamente. Por isso, uma atitude Zen é não se apegar a nada. Não rejeitar. Simplesmente estar. Caminhar sentindo o chão. Quando estou com fome, como. Quando estou cansado, durmo. No Zen, o Universo não é um mistério a ser resolvido. É uma dança a ser dançada. Não há começo absoluto, nem fim absoluto. Não há necessidade de um Criador, porque não há "criação" como ato único. O Universo acontece agora. Sempre esteve a acontecer. Não é uma história com moral, nem uma máquina -- com um fim definido, um objetivo, um propósito.

O Tao Te Ching (Dao De Jing, em pinyin moderno) é irmão espiritual do que falámos do Zen, e até o influenciou profundamente. Um livrinho de cerca de 5.000 caracteres (extremamente curto), escrito por volta do século VI a.C., atribuído a Laozi (Lao Tsé), é um dos textos fundadores do Taoismo (Daoismo). Como o Zen, não apresenta uma doutrina fixa: fala em poesia, imagens, metáforas. Literalmente: Tao significa Caminho ou Via. Não é um deus. Não é uma entidade pessoal. Não é um princípio moral. O Tao é o fundamento sem princípio nem fim: a fonte invisível de onde todas as coisas surgem e para onde voltam. A ordem espontânea que faz com que as flores floresçam, os rios corram, as estações mudem, os seres vivos nasçam e morram, sem esforço consciente.

Tentar agarrar o Tao com palavras é já perdê-lo. O Tao só pode ser vivido sem ser explicado. Ideias principais do Tao Te Ching: Wu Wei (Não-Ação), não significa "não fazer nada". Significa agir sem forçar, sem lutar contra o fluxo natural. Tal como a água: flexível, suave, mas capaz de vencer a pedra. Humildade, com suavidade, quebra o forte e o rígido. O suave e o maleável vencem. Desconfiança da imposição humana. Quanto mais tentas controlar tudo, mais desordem crias. O governante ideal é aquele que quase não se nota que existe. A sabedoria verdadeira não é "impor a ordem", mas nutrir o que já cresce naturalmente. Não dualidade: nem bem nem mal; nem belo nem feio; não há sucesso nem fracasso. Tudo são faces da mesma moeda. Quem se apega a um lado, cria inevitavelmente o outro lado.

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