Nos anos 2010, sobretudo em universidades americanas (Ivy League, costa oeste), a ideia principal era: O género é inteiramente uma construção social, o corpo biológico não deve impor limites à identidade. A auto-identificação é soberana: se alguém diz que é mulher, é mulher, sem mais perguntas. Essa ideia ignora completamente a biologia que a medicina e a neurociência estudam há décadas. Na prática, passou-se a recusar até a evidência científica sobre diferenças sexuais naturais. Rapidamente, dentro de meios universitários e ativistas, quem questionasse minimamente esta ideia era acusado de “transfobia”. Podia perder o emprego, ou ser-lhe vedado publicar os seus trabalhos nos sites ou revistas das suas especialidades. Ridicularizados como “reacionários”, muitos cientistas sentiram-se intimidados. Jornalistas e políticos que sabiam que havia problemas reais (por exemplo, no desporto), calavam-se porque tinham medo de ser linchados publicamente.
Robert Sapolsky; Simon Baron-Cohen; Eric Vilain -- distinguem entre "identidade de género" e "performance física". É um detalhe muito interessante, e ajuda a ver como a boa ciência nunca cai em esparrelas ou no radicalismo. São dois domínios cerebrais e biológicos diferentes, e que não devem ser confundidos. Identidade de género refere-se ao que a pessoa sente que é internamente: homem, mulher, algo entre os dois, ou nenhum. Está muito associada ao desenvolvimento cerebral precoce, em especial à influência hormonal durante a gestação (2º trimestre da gravidez). A identidade de género é uma experiência subjetiva, profundamente enraizada, que o cérebro "decide" de maneira muito precoce e não é fácil de mudar.
Sapolsky defende que a identidade de género é, na sua essência, a percepção do "eu", algo profundamente fixado no cérebro. Performance física (no desporto) refere-se à capacidade do corpo: massa muscular, força, velocidade, resistência, densidade óssea, capacidade pulmonar, etc. Estas capacidades são moldadas pela biologia sexual (cromossomas, hormonas, anatomia) sobretudo durante a puberdade. A exposição à testosterona no período da adolescência cria vantagens físicas irreversíveis para quem passou pela puberdade masculina. Isto é muito claro: um cérebro pode sentir-se feminino, mas um corpo que passou pela testosterona da puberdade masculina terá vantagens atléticas difíceis de apagar.
No desporto a biologia importa. A biologia não pode ser ignorada só porque a psicologia do indivíduo sente outra identidade. O movimento woke, ao recusar o critério biológico, criou uma injustiça real. Esse tipo de radicalismo prejudicou a aceitação pública da diferença transgénero, porque criou rejeição, ressentimento e polémicas que poderiam ter sido evitadas com mais prudência. Algumas federações já estão a fazer isso, mas ainda falta muito equilíbrio. Os radicais trataram identidade de género e performance física como se fossem a mesma coisa. E não são. Trata-se de sentimentos de "ser mulher" em corpo de homem. Identidade de género é apenas psicologia cerebral. Performance física é desempenho meramente biológico do corpo, cujos parâmetros desse desempenho podem ser medidos objetivamente. Sentimento e capacidade física são duas realidades bem distintas. Portanto, há que distinguir uma mulher, apenas do ponto de vista psicológico, das outras mulheres que o também são ao nível do corpo (é o feminino biológico que vincula o seu próprio corpo). É o feminino ditado pelo seu fenótipo corporal específico.
Um caso da natação muito conhecido é o de Lia Thomas, agora nadadora feminina transgénero americana. Mas havia competido anteriormente como homem numa equipa masculina durante três anos. Um nadador sem grande destaque. Mas depois da sua transição de género, inscreveu-se na equipa feminina. E agora passou a ganhar provas femininas nacionais americanas importantes. E a polémica estalou. Apesar de ter feito terapia hormonal (redução de testosterona) por mais de um ano, o seu corpo manteve vantagens estruturais da puberdade masculina: Membros superiores mais longos; Maior capacidade pulmonar; Mais força nas pernas e braços. Isso causou grande debate: muitas atletas mulheres disseram sentir-se injustiçadas por nítida desvantagem.A ciência séria diz que a biologia física (força, estrutura óssea, capacidade pulmonar) não é anulada completamente com terapia hormonal. Logo, em ambientes onde a performance física é o que conta (desporto de competição), é necessário haver regras que levem em conta as vantagens objetivas, para proteger a justiça e a segurança desportiva. A puberdade masculina cria mudanças anatómicas e fisiológicas permanentes. Ignorar isso seria sacrificar a equidade.
Muitos esqueceram que a compaixão não pode substituir o juízo crítico e a razão. O medo de “ofender” tornou-se mais importante do que a procura da verdade. Não tardaram as aberrações morais e sociais a proliferar, disfarçadas de virtudes. Oportunistas exploraram a brecha: homens com vantagem física a competir como “mulheres”; confusão nas escolas; medo de professores e médicos de falar claro. Uma inversão em que a exceção passou a querer impor-se como regra. O que é raro é raro, a sufocar o que é frequente é frequente. Moral da história: a compaixão sem sabedoria gera monstros. O impulso de proteger os frágeis, se não for temperado pelo respeito à ordem natural e ao bom senso, degenera em caos.
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